- O Oscar 2014 pode virar um show de pop rock, com as presenças de U2, Pharrell Williams e Karen O (da banda Yeah Yeah Yeahs). Eles assinam três das cinco canções indicadas ao prêmio da Academia. As músicas da banda e do rapper, por sinal, grudam como hits e devem ter vida muito mais longa que os filmes de onde derivam.
Mas a cerimônia marcada para o dia 2 de março também pode virar palco de um milagre evangélico. Premiar uma música que ninguém ouviu antes. E que só pode ter sido escolhida por “influência divina”. Ou não?
Entre os indicados, o U2 venceu o Globo de Ouro por “Ordinary Love”, da trilha da cinebiografia “Mandela”. Isso não o qualifica como favorito, já que o vencedor do Globo de Ouro de Melhor Canção raras vezes repete o Oscar da categoria – na verdade, a maioria dos vencedores do Globo nem são indicados ao Oscar.
Tradicionalmente, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas prefere músicas de desenhos animados. “Happy”, de Pharrell Williams, faz parte da trilha de “Meu Malvado Favorito 2″. Mas é “Let It Go”, cantada por Idina Manzel em “Frozen – Uma Aventura Congelante” que tem as características favoritas dos votantes na categoria. Trata-se de uma balada de refrões potentes e dramaticidade teatral, que não esconde seu anseio de virar musical da Broadway – e é adequadamente tão cafona quanto a própria cerimônia de premiação do Oscar.
Seu maior contraste na competição é a acústica “The Moon Song”, composta por Karen O e cantada pela atriz Scarlett Johansson na trilha de “Ela”. A música é delicada e intimista demais, e deve apenas fazer figuração no evento, que é conhecido por favorecer números musicais exuberantes.
Na verdade, nada melhor que o gospel “Alone Yet Not Alone” para se ter ideia do que se passa nos bastidores da Academia. A canção faz parte da trilha do filme homônimo, uma produção evangélica independente, cujo clipe abaixo começa com reza da cantora Joni Eareckson Tada, uma quadriplégica de 64 anos de idade e meio pulmão, pedindo para que Deus não lhe permita desafinar. Clichê do clichê gospel, a música operou o milagre de preterir da competição artistas como Paul McCartney, Ed Sheeran, Justin Timberlake, Taylor Swift e Lana Del Rey.
É escandaloso observar que “Alone Yet Not Alone” não tem críticas avaliadas no site Rotten Tomatoes nem bilheteria computada no Boxoffice Mojo. Segundo seu release, foi exibido apenas durante uma semana num “punhado de cidades” não especificadas dos EUA. Mas este filme que ninguém viu – e supostamente nem ouviu – traz em sua ficha o nome do compositor Bruce Broughton, que durante anos foi responsável por determinar os indicados ao Oscar de Melhor Canção e até 2012 era integrante da diretoria da Academia. Além disso, o arranjador da canção, William Ross, é o diretor musical da cerimônia do Oscar 2014.
Com a indicação de “Alone Yet Not Alone”, a Academia joga dúvidas e lama sobre o brilho do Oscar 2014. Ou, se preferirem, comprova de vez o poder da fé em Deus.
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