quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Festival de Veneza 2013


















O Festival de Veneza inicia sua 70ª edição nesta quarta (28/8). São 70 anos de cinema, que a seleção deste ano tenta honrar, numa
mistura eclética de dramas sociais, fantasias, ficção científica e até animação. E incluirá, pela primeira vez em competição, filmes documentários. Para o diretor do festival Alberto Barbera, trata-se de “um mix interessante de nomes estabelecidos com cineastas emergentes e filmes dos mais variados tipos”. Ou seja, o cinema em toda as suas possibilidades.
A seleção competitiva traz novos filmes de Terry Gilliam (“O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus”), Jonathan Glazer (“Reencarnação”), Stephen Frears (“A Rainha”), Xavier Dolan (“Amores Imaginários”), Hayao Miyazaki (“A Viagem de Chihiro”), David Gordon Green (“Segurando as Pontas”), John Curran (“Despertar de uma Paixão”) e até do ator James Franco (diretor do inédito “As I Lay Dying”). Ao todo, 20 filmes competirão pelo Leão de Ouro, que será entregue pelo júri presidido pelo mítico cineasta Bernardo Bertolucci (“Os Sonhadores”).
Gravidade














Exemplo do ecletismo vigente na programação, a abertura do festival acontecerá no espaço sideral, com a première 3D de “Gravidade”, do cineasta Alfonso Cuarón (“Filhos da Esperança”), exibido fora de competição. A trama acompanha George Clooney (“Os Descendentes”) e Sandra Bullock (“As Bem-Armadas”) como astronautas perdidos no espaço, após um acidente destruir sua nave em órbita da Terra. Mesmo com efeitos especiais, o diretor prometeu um filme realista, sem sons se propagando no espaço e sem maquiagem nos protagonistas, além de refletir o problema causado pelo acúmulo de lixo espacial acima da atmosfera.
Por sua vez, o filme escolhido para encerrar o evento é uma coprodução brasileira: o documentário 3D “Amazônia – Planeta Verde”, de Thierry Ragobert (“O Planeta Branco”), parceria da Gullane Filmes com a França, também exibida fora de competição, que pretende desvendar mistérios da fauna e da flora através do ponto de vista de um macaco prego, sobrevivente de um acidente aéreo na região amazônica.
Amazônia – Planeta Verde













“Abrimos e fechamos com filmes 3D, que parece ser a direção em que o cinema está seguindo”, apontou Barbera, que para chegar aos filmes da seleção assistiu com sua equipe quase 3,5 mil títulos de diferentes países.
O fato que mais chama atenção na seleção é justamente a inclusão pioneira de documentários. Entre os filmes em competição, estão “The Known Unknown: The Life and Times de Donald Rumsfeld” de Errol Morris (“Sob a Névoa da Guerra”), um perfil-denúncia do controvertido ex-Secretário de Defesa dos EUA Donald Rumsfeld, e “Sacro GRA”, de Gianfranco Rosi (“El Sicario, Room 164″), que documenta os arredores da maior rodovia urbana da Itália.
Tom à la Ferme















Alguns títulos de ficção também demonstram preocupação com eventos reais. “Parkland”, de Peter Landesman, dramatiza um trauma histórico americano, examinando o caos que tomou conta do Hospital Parkland, em Dallas, no fatídico dia de 1963 em que o corpo baleado do Presidente John Kennedy adentrou suas portas.
O diretor Stephen Frears é outro que se embrenha em fatos reais, apresentando o drama verídico de uma mulher em busca de seu passado. “Philomena” acompanha uma idosa (Judi Dench, de “007 – Operação Skyfall”) procurando o filho que foi tirado de seus braços quando ela ainda era jovem e morava num convento. O filme denuncia práticas da Igreja e discute até que ponto a hipocrisia perverte valores cristãos, prejudicando ao próximo.
The Wind Rises













“Tracks”, de John Curran, vai levar ao Lido outra história real de uma mulher determinada. A trama adapta o livro de memórias de Robyn Davidson, vivida na tela por Mia Wasikowska (“Segredos de Sangue”), uma mulher que andou por nove meses de camelo no deserto australiano.
Como é de praxe em sua filmografia, Xavier Dolan volta ao circuito dos festivais para discutir a homossexualidade no mundo contemporâneo. O diretor canadense, que pela primeira vez preferiu Veneza a Cannes, concorre com “Tom à la Ferme” (Tom at the Farm), sobre um homem que, após a morte do parceiro, conhece a família do companheiro, que entretanto desconhecia sua vida gay.
Under the Skin













Também refletindo temas atuais, “Night Moves”, de Kelly Reichardt (“Meek’s Cutoff”), acompanha um trio de ecoterroristas que planeja a explosão de uma represa, e conta com a atuação de Peter Sarsgaard (série “The Killing”) e de jovens estrelas de Hollywood, como Jesse Eisenberg (“Truque de Mestre”) e Dakota Fanning (“A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 2″).
Do mundo imaginário e fantástico de Terry Gilliam vem “The Zero Theorem”, filme que busca o sentido da vida. Literalmente. Sua trama acompanha um gênio da informática que tenta determinar o sentido da vida humana, com um elenco de peso encabeçado por Christoph Waltz (“Django Livre”), Matt Damon (trilogia “Bourne”) e Tilda Swinton (“Precisamos Falar Sobre Kevin”).
Parkland
Igualmente fantasiosa é a sci-fi “Under The Skin”, de Jonathan Glazer, que traz Scarlett Johansson (“Os Vingadores”) explorando sua sensualidade como uma alienígena devoradora de homens.
Por outro lado, o mestre da animação japonesa Hayao Miyazaki se inspira na realidade para trazer a Veneza uma cinebiografia animada, “The Wind Rises”, que conta a história de Jiro Horikoshi, engenheiro japonês que ficou famoso por criar o avião “Zero Fighter”, utilizado durante a 2ª Guerra Mundial.
Joe
Especialista em comédias besteirol, David Gordon Green se reinventou no começo do ano com o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim por “Prince Avalanche”, e agora surge em Veneza com o thriller “Joe”, protagonizado por Nicolas Cage (“O Resgate”). Adaptação do romance homônimo de Larry Brown, a trama acompanha o personagem de Cage, um ex-presidiário, que se torna um exemplo improvável para um garoto de 15 anos (Tye Sheridan, revelação de “A Árvore da Vida”) com uma família problemática.
O ator James Franco também traz uma adaptação literária, “Child of God”, que leva às telas o livro homônimo de Cormac McCarthy (autor de “Onde os Fracos Não Têm Vez”). Dirigido e estrelado por Franco, o drama conta a história de um solitário violento que vive em uma caverna nas montanhas do Tennessee. Essa será a terceira vez que o ator estreia um filme em um festival neste ano.
Ana Arabia













Nota-se um domínio marcante de filmes de língua inglesa na seleção. Não por acaso, a imprensa americana está considerando Veneza o pontapé inicial da temporada de premiações, que culmina no Oscar em 2014. Tradicionalmente, porém, o festival italiano não tem tanto impacto nas indicações da Academia quanto seu rival francês, o Festival de Cannes, e seu rival de calendário, o Festival de Toronto. Isto porque Veneza é mais ousado, tendo destacado em tempos recentes filmes como “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), “O Lutador” (2008), “Direito de Amar” (2009), “Em um Lugar Qualquer” (2010), “Shame” (2011) e “O Mestre” (2012).
Veneza não se importa com o Oscar, pois seu compasso é outro, mais artístico. Se por um lado o festival se aproveita dos filmes de Hollywood para atrair flashes e badalação superficial, também entrega aos cinéfilos filmes de maior profundidade, usando um mapa cinematográfico bastante abrangente e plural. Ou, como diz Barbera: “Temos uma programação bastante variada, com grandes filmes de Hollywood, mas também algumas das formas mais radicais de expressão. E todo o resto imaginável entre eles”.
Miss Violence













Entre os europeus, o cineasta francês Philippe Garrel (“Amantes Constantes”), sempre favorito em Veneza, volta com “La Jalousie”, novamente estrelado por seu filho Louis Garrel (“Os Sonhadores”) e enfocando o amor. Gianni Amelio, último italiano a ganhar o Leão de Ouro de Veneza – em 1998 por “Assim É Que Se Ria” -, também retorna, desta vez para lançar sua primeira comédia, “L’Intrepido” (The Intrepid). Mas é o novato Alexandros Avranas, cineasta grego que lança seu segundo longa-metragem, “Miss Violence”, quem pode surpreender, muito em função da história abordada: o suicídio de uma menina de 11 anos de idade.
Representantes asiáticos, o taiwanês Tsai Ming-liang, vencedor do Leão de Ouro por “Vive L’Amour” (1994), é forte candidato novamente com “Stray Dogs”, assim como o cineasta israelense Amos Gitai (“Aproximação”), que mantém sua presença constante no evento com “Ana Arabia”.
Tracks














Entretanto, o vencedor do Festival de Veneza do ano passado, o sul-coreano Kim Ki-Duk (Leão de Ouro por “Pietá”), curiosamente apresentará seu novo filme fora de competição. O controverso “Moebius” tem lutado para obter um lançamento em sua terra natal devido ao conteúdo pesado. O drama mostra incesto, castração e outras formas de situações “impróprias”, segundo a Korea Media Rating Board (KMRB), responsável pela classificação etária dos filmes no país.
Fora de competição, também serão exibidos um filme dedicado a Federico Fellini do mestre italiano Ettore Scola (“Aquele que Sabe Viver”), a biografia “Walesa: Man of Hope”, sobre o primeiro presidente operário do mundo, assinado pelo genial Andrzej Wajda (“O Homem de Ferro”), além do polêmico “The Canyons”, de Paul Schrader (“Gigolô Americano”), gravado digitalmente com a atriz-problema Lindsay Lohan (“Todo Mundo em Pânico 5″) e o ator pornô James Deen.
Philomena
Evidenciando o ecletismo da seleção, ainda serão projetados a continuação do terror “Wolf Creek”, a adaptação com atores reais do anime clássico “Space Pirate Captain Harlock”, o remake japonês do western “Os Imperdoáveis” (1992), feito por Lee Sang-il (“Hula Girls”), e o intrigante “Locke”, de Steven Knight (roteirista de “Senhores do Crime”), um thriller em tempo real, estrelado por Tom Hardy (“Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge”).
A prestigiada sessão Horizontes, mostra paralela dedicada a filmes que privilegiam novas tendências, também apresenta longas instigantes e distintos, entre eles “Why Don’t You Play in Hell?”, filme de ação e artes marciais do japonês Sion Sono (“Suicide Club”), “We Are the Best!”, sobre pré-adolescentes que formam uma banda punk, dirigido pelo sueco Lukas Moodysson (“Para Sempre Lilya”), “The Sacrament”, novo terror de Ti West (“Hotel da Morte”) sobre um jornalista que investiga um culto misterioso, e “Palo Alto”, estreia da mais nova integrante do clã Coppola, Gia Coppola, neta do cineasta Francis Ford Coppola (“O Poderoso Chefão”).
We Are the Best!













O evento também prestará homenagem ao cineasta americano William Friedkin, diretor de clássicos como “Operação França” (1971) e “O Exorcista” (1973), que receberá um Leão de Ouro especial por sua carreira. Para Barbera, a obra de Friedkin é “exemplo de um cinema exigente, intelectualmente honesto, emocionalmente intenso, aventurado e errático de modo programático”.
O Festival de Cinema de Veneza acontece entre os dias 28 de agosto e 7 de setembro na cidade italiana que lhe dá nome. Confira abaixo a lista completa dos selecionados.
Walesa: Man of Hope
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Programação do Festival de Veneza 2013

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Mostra competitiva
“Es-Stouh”, de Merzak Allouache (Algéria/França)
“L’intrepido”, de Gianni Amelio (Itália)
“Miss Violence”, de Alexandros Avranas (Grécia)
“Tracks”, de John Curran (Reino Unido/Austrália)
“Via Castellana Bandiera”, de Emma Dante (Itália/Suiça/França)
“Tom at the Farm,” de Xavier Dolan (Canadá/França)
“Child of God”, de James Franco (EUA)
“Philomena,” de Stephen Frears (Reino Unido)
“La Jalousie”, de Philippe Garrel (França)
“The Zero Theorem”, de Terry Gilliam (Reino Unido/EUA)
“Ana Arabia”, de Amos Gitai (Israel/França)
“Under the Skin”, de Jonathan Glazer (Reino Unido/EUA)
“Joe”, de David Gordon Green (EUA)
“Die Frau des Polizisten (The Police Officer’s Wife)”, de Philip Groning (Alemanha)
“Kaze tachinu”, de Hayao Miyazaki (Japão)
“The Unknown Known: the Life and Times of Donald Rumsfeld”, de Errol Morris (EUA)
“Night Moves”, de Kelly Reichardt (EUA)
“Sacro GRA”, de Gianfranco Rosi (Itália)
“Jiaoyou (Stray Dogs)”, de Tsai Ming-liang (Taiwan/França)
Fora de competição
“Space Pirate Captain Harlock”, de Aramaki Shinji (Japão)
“Gravity”, de Alfonso Cuaron (EUA)
“Moebius”, de Kim Ki-duk (Coreia do Sul)
“Locke”, de Steven Knight (Reino Unido)
“Yurusarezaru mono (Unforgiven)”, de Lee Sang-Il (Japão)
“Wolf Creek 2”, de Greg McLean (Austrália)
“Die Andere Heimat — Chronik einer Sehnsucht (Home from Home — Chronicle of a Vision)”, de Edgar Reitz (Alemanha)
“The Canyons”, de Paul Schrader (EUA)
“Che strano chiamarsi Federico Scola racconta Fellini”, de Ettore Scola (Itália)
“Walesa. Czlowiek z nadziei (Walesa. Man of Hope)”, de Andrzej Wajda e Ewa Brodzka (Polônia)
“Summer 82 When Zappa Came to Sicily”, de Salvo Cuccia (Itália/EUA)
“Pine Ridge”, de Anna Eborn (Dinamarca)
“The Armstrong Lie,” de Alex Gibney (EUA)
“Ukraina ne Bordel (Ukraine Is Not Brothel)”, de Kitty Green (Austrália)
“Amazonia”, de Thierry Ragobert (França/Brasil)
“Feng Ai (‘Til Madness Do Us Apart)”, de Wang Bing (Hong Kong/China/França/Japão)
“At Berkeley”, de Frederick Wiseman (EUA)


Mostra Horizontes
“Je m’appelle Hmmm…”, de Agnes B. (França)
“Bauyr (Little Brother)”, de Serik Aprymov (Cazaquistão)
“Il terzo tempo”, de Enrico Maria Artale (Itália)
“Eastern Boys”, de Robin Campillo (França)
“Palo Alto”, de Gia Coppola (EUA)
“Ruin”, de Amiel Courtin-Wilson e Michael Cody (Austrália)
“Mahi Va Gorbeh (Fish and Cat)”, de Shahram Mokri (Irã)
“Vi ar bast! (We Are the Best!)”, de Lukas Moodysson (Suécia/Dinamarca)
“Wolfskinder (Wolfschildren)”, de Rick Ostermann (Alemanha)
“La vida despues”, de David Pablos (México)
“Algunas Chicas”, de Santiago Palavecino (Argentina)
“Medeas”, de Andrea Pallaoro (EUA/Itália)
“Still Life”, de Uberto Pasolini (Reino Unido)
“Piccola Patria”, de Alessandro Rossetto (Itália)
“La prima neve”, de Andrea Segre (Itália)
“Jigoku de naze warui (Why Don’t You Play in Hell?)”, de Sono Sion (Japão)
“The Sacrament”, de Ti West (EUA)
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